quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Lembranças inexploradas das Cataratas do Iguaçu

Pedro em sua aventura na Garganta do Diabo: pés descalços para não escorregar e máquina fotográfica enrolada em jornal.


O Parque Nacional completa 70 anos de história em janeiro do ano que vem. A administração reuniu um acervo de fotografias antigas para uma exposição, que será itinerante



“Posso dizer-lhe que esta maravilha não deve continuar sendo de um particular”. O pai da aviação, Alberto Santos Dumont, não ficaria indiferente a tanta beleza natural. Ele conheceu as Cataratas em abril de 1916 e, imediatamente, visitou o então presidente da província, Afonso Alves de Camargo, para solicitar que as terras do uruguaio Jesus Val fossem desapropriadas. Ele queria que todos pudessem ter acesso a uma das paisagens mais bonitas do mundo. E não errou na medida.


Dois meses depois, o parque é estatizado, segundo a história, graças ao pai da aviação. Dumont estava em Buenos Aires, na Argentina, quando decidiu visitar as Cataratas. Veio de barco a vapor até Porto Iguaçu, a convite de Frederico Engel, dono do primeiro hotel que existia nas proximidades – ele levava os poucos turistas nas terras que ainda eram propriedade particular. Dumont ficou apenas dois dias, mas não deixou em nenhum momento de apreciar a imensidão das águas. Chegou a colocar em risco a própria vida, quando subiu em um tronco de madeira que estava solto próximo a um dos saltos. Conhecendo os perigos de ficar sobre um tronco molhado, próximo do precipício, Engel pediu desesperadamente para ele voltar. Dumont retrucou: “Não se preocupe, as alturas não me intimidam.”

Dumont não foi a primeira e grande personalidade que passou pelas Cataratas do Iguaçu. Muito antes disso, em 1532, o explorador e navegador espanhol Álvar Nuñez Cabeza de Vaca chegou ao local por acaso, quando procurava um caminho que o levasse a Assunção, no Paraguai. Sua descoberta está relatada em um de seus diários de navegação. “O rio dá uns saltos por uns penhascos enormes e a água golpeia a terra com tanta força que de muito longe se ouve o ruído.” Foi o primeiro registro sobre o assunto feito por um homem branco. Cabeza de Vaca partiu logo em seguida, porque estava fugindo de índios que o perseguiam.


Em 1876, o famoso engenheiro da linha de trem que ligou Curitiba a Paranaguá, André Rebouças, também esteve nas Cataratas. Antes ainda de Dumont, Rebouças já havia noticiado que a área era exuberante e que o local deveria ser transformado em parque. O pedido, contudo, só foi atendido quando Dumont pisou nas terras paranaenses. “Rebouças foi a primeira pessoa que mencionou a necessária proteção da área. Ele havia visitado os Estados Unidos, onde já existia o Yellowpark”, explica o chefe do Parque Nacional do Iguaçu, Jorge Luiz Pegoraro.


O reconhecimento do local como uma área importante de preservação só ocorreu em 1939, quando o então presidente Getúlio Vargas decretou a nacionalização das Cataratas e, na época, das Sete Quedas. Foi o segundo parque nacionalizado: o primeiro foi o Itatiaia, no Rio de Janeiro, em 1937. “Dá para se entender que foi o primeiro parque do Brasil, se notarmos a cronologia histórica”, diz Pegoraro. Antes da nacionalização, o lugar era conhecido como Saltos de Santa Maria – nome de batismo dado por Cabeza de Vaca. Após a nacionalização, ele passou a se chamar Parque Nacional do Iguaçu (antes se escrevia Iguassu) e teve a área de preservação aumentada. Em 10 de janeiro do ano que vem, completará seus 70 anos.


Visitantes

Não há como se manter indiferente ao volume de água (1 milhão e 200 mil litros por segundo, em média) e aos 275 saltos naturais que existem nas Cataratas. Personalidades como o diretor de cinema Francis Ford Coppola, o ex-presidente norte-americano Bill Clinton, o ator Anthonny Hopkins e a princesa Diana já visitaram o parque e não deixaram de registrar o momento com fotos. A ex-primeira-dama dos Estados Unidos, Eleonor Roosevelt, admirada com o que viu, disse que seria covardia comparar as Cataratas com a Niagara Falls.



Quem tem propriedade em falar sobre as Cataratas de ontem e hoje, porque a conheceu desde a infância, diz que é impossível visitar o local e não sacar uma foto. O acervo de imagens antigas, que a administração do Parque Nacional conseguiu reunir para a comemoração dos 70 anos, não deixa mentir: ex-funcionários e moradores da região contribuíram com 2,5 mil fotos para a exposição que será aberta no ano que vem e pretende se tornar itinerante (Conheça a história de algumas dessas pessoas no texto adiante). Ainda em janeiro de 2009, o parque vai lançar um livro sobre as sete décadas de história de um dos pontos turísticos mais visitados do Brasil.


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