Tida como o último grande refúgio da biodiversidade do noroeste do Paraná, na zona de transição ecológica entre a Floresta Estacional Semidecidual e a Floresta Ombrófila Mista, a Reserva Biológica (Rebio) das Perobas prepara o seu plano de manejo. Entre os trabalhos que subsidiarão o documento, destacam-se várias pesquisas científicas em torno da fauna e flora da região. Uma delas, já concluída, faz o levantamento de algumas espécies de morcegos que habitam por lá. Há ainda uma sobre médios e grandes mamíferos e outra sobre aves de rapina. Essas duas últimas estão em andamento.
Os estudos são de responsabilidade de instituições de ensino superior parceiras da reserva, cujas licenças para as pesquisas foram dadas pelo Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (Sisbio), do Instituto Chico Mendes (ICMBio). De acordo com o chefe da Rebio, Carlos De Giovanni, todos esses trabalhos servirão de apoio técnico-científico para a elaboração do plano de manejo. “Essas pesquisas auxiliam, alicerçam o plano, principalmente no levantamento de fauna e flora da Rebio que deve constar nesse documento”, explica.
Essa parceria com os pesquisadores é considerada uma via de mão dupla, pois, por um lado, serve de fomento para a pesquisa acadêmica e, por outro, para a conservação da área ambiental protegida. De Giovanni ressalta a importância dos estudos científicos desenvolvidas na reserva e no entorno dela. “Descortina detalhes de fauna, flora e sócio-ambientais como um todo que, muitas vezes, são desconhecidos. Abrir as portas a pesquisadores éticos e preparados é fundamental para subsidiar com informações importantes o nosso trabalho diário de proteção e conservação da biodiversidade existente na unidade,” frisa.
MORCEGOS – O responsável pela pesquisa com morcegos, professor e coordenador do curso de Ciências Biológicas da Universidade do Paraná, Campus Cianorte, Henrique Ortêncio Filho, aponta que ainda há muito potencial para investigações científicas na reserva. “Inauguramos o ciclo de trabalhos com a catalogação de algumas espécies de morcegos, mas ainda temos projetos para continuar os estudos”, revela. Segundo ele, o grupo pretende iniciar pesquisas sobre os morcegos em abrigos diurnos na mata e em edificações urbanas do entorno.
Isso porque a primeira etapa se deu numa área aberta de aproximadamente 11 quilômetros, em que os pesquisadores armavam redes de neblina, cuja altura não era capaz de capturar os animais que têm o hábito de voar acima da copa das árvores. Então, conforme explica o professor Henrique, devem existir inúmeras outras espécies que não foram listadas. Durante o período de estudo que abrangeu de maio de 2008 a abril de 2009 foram capturados 170 indivíduos, compondo oito gêneros e 13 espécies.
Com esses resultados já relatados fica mais fácil exemplificar à população a importância desses animais para a preservação ambiental. A ação deles no processo de dispersão de sementes, polinização e controle populacional de insetos, por exemplo, é fundamental. “Tal condição pode aproximar afetivamente as pessoas dos morcegos, animais envoltos por uma série de mitos e lendas negativas, principalmente relacionadas ao vampirismo”, afirma o professor. Ele acrescenta, aliás, que nenhum morcego hematófago (que se alimenta de sangue) foi registrado durante o estudo.
Segundo Henrique Filho, o viés da conservação foi um dos motivadores dessa pesquisa na Reserva Biológica de Perobas. “Nosso interesse surgiu na relevância da área, até então desconhecida em termos de biodiversidade, em especial em relação aos morcegos. Além disso, vale destacar que aquele é um dos últimos remanescentes do noroeste do Paraná, uma área realmente de valor inestimável”, conclui o cientista, que também lidera o Grupo de Estudos em Ecologia de Mamíferos e Educação Ambiental da Universidade Paranaense.
Atualmente, sob coordenação do professor Vagner Canuto, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, outro grupo de pesquisadores estuda e cataloga os médios e grandes mamíferos da reserva. E uma outra equipe, liderada pelo professor Willian Menq, do Centro Universitário de Maringá, pesquisa as aves de rapina. Esses trabalhos acadêmicos, conforme disse o chefe da reserva, Carlos De Giovanni, serão balizadores do plano de manejo da unidade de conservação criada em 2006.
Ascom/ICMBio
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